Posto que os mestres todos concordaram
em que era preciso
em que era mesmo o mais importante de tudo
olhar de cima o que está debaixo
para ver debaixo o que está por cima
e claro concordaram todos
diferença de escada ou melhor ombros
quando o corpo ficou decisivamente cheio
decisivamente apto a recomeçar tudo
os abutres até os corvos encetaram imediatamente
um trabalho de fazer sacos
encher armários
e dar voltas à chave sobre o trinco comum
do vidro de ver-se por fora o que está por dentro.
Naturalmente que isto não causou sucesso
pois ninguém se importou vamos lá nada
os mestres os próprios mestres o confessaram
e mesmo começaram a escrever números
ou melhor uma distância grande
Isto sucedeu todos os dias
Calendários diários contaram sempre
tudo com uma distracção perfeita de pancadas
os sinais eram cada vez mais nítidos
pois era evidentíssimo que já nem
reparávamos sequer
quando um idiota perfeitamente solene
berrou que não era preciso
coisíssima absolutamente nenhuma.
Nada
não era preciso nada
a não ser
a loucura de o dizer.
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O absurdo aparente da desrazão da vida hodierna, num belo poema *de Vieira Calado. Mais poemas para apreciar no blogue do autor, aqui.
Fui apanhado a laço!...
ResponderEliminarhehehehe... parece-me é que fui pouco acertivo no comentário de rodapé. Ficaria melhor "O absurdo da desrazão da vida hodierna, etc, etc.." retirando o "aparente" dali.
ResponderEliminar;)