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domingo, março 20, 2022

domingo, dezembro 06, 2020

dos chulos

Todo o poeta é um proxeneta de palavras.


segunda-feira, setembro 28, 2020

Do tempo

 Dizem que o tempo as dores faz sarar,

mas há uma dor que é a dor do tempo,

que nem o tempo pode curar. 


(FC, colectânea de poesia kitschunga, 2020)

quinta-feira, setembro 17, 2020

Ó mar

 

Ó Mar de Portugal

És desígnio eterno

De um querer adiado

Mar pai e materno

És só fado cantado

És um logro nacional




efe 2020.09.17

colectânea de poesia kitschunga

quinta-feira, julho 30, 2020

As papas




As papas da sua mãe 

Na mesa ainda arrumada
Em tacho meão fenece
Cálida, do fogão retirada
A papa bem cozinhada
Jaz, quente, e arrefece. 

 Raiada a pele em sulcos
Atrai olhares famintos
E uns apetites vorazes
De barrigas em tumultos
Comilonas bem capazes

Assim, acabadas de fazer
São estas papas de milho
Papas ca mãe oferece
Comida boa podem ver
Da mãe para o seu filho
Jaz, quente, e arrefece. 

Tapo o tacho com aspas
Das papas da sua mãe
No fim… só há “raspas”

efe (colectânea de poesia kitschunga)

quarta-feira, novembro 06, 2019

Sofi(t)as

«Raios partam a sofiologia mais os seus arautos que desfalecem em salamaleques à personagem intragável, prepotente e rude para com os simples. Ainda há quem se lembre dela veraneando ao Sul, nos anos 70, ultrapassando a plebe nas bichas dos CTT para ser atendida com urgência - porque o folguedo garrafal e as páginas em branco de versos ainda mais brancos a aguardavam?!
Deixem-na estendida nos livros prenhes de palavras translúcidas que escreveu, que é aí o seu lugar. O mesmo lugar de tantos artistas grandiosos que de sociáveis não passavam de minúsculos.
É que já dá vómitos tanta Sofia: são escolas, bibliotecas, exposições, concursos, homenagens, programas de TV e saraus musicais, danças e bailados, tudo escorrendo nhanha híper-panegírica e… quem sabe, ainda surja alguma hagiografia a tão santa Sofia?!
Arreda, sofiéticos de caca!»



domingo, fevereiro 24, 2019

a paradisíaca Meia Praia



Não sente tristeza quem carrega menino a criar, esperança no peito, e o mar no olhar. 

efe - in colectânea de poesia kitschunga

sábado, fevereiro 17, 2018

morte lenta


Ei-lo abandonado
Jazendo encalhado
Outrora navegante
Do nosso mar gigante

Jazz aqui adornado
Em lagoa pequena
Desta forma deitado
Que triste é, que pena.



domingo, setembro 17, 2017

fomes aladas


Aquela gaivota enganada
Lá na ponta do quebra-mar
Esperando esperançada
Um barco de peixe a chegar
Mas só vem gente ociosa
É só turistas, que maçada
Pois trazem comida de prato
E a pobre gaivota nervosa
Desiste de tanto esperar
E vai ali roubar ao gato
.
.


quinta-feira, janeiro 28, 2016

Ode repentina a um botão



Aquele botão rosado, tão desejado, de mamilo feminino e não de campainha em que toca e foge o menino, tornou-se de repente num outro contendo tamanha obsessão, das calças, malvado botão, teimando que não abria, e no meio da interior tormenta a que o corado botão da flor assistia, eu, agachado, arriava intensa caganeira, ali mesmo no pé da amendoeira.

F - in Colectânea de poesia kitschunga
2016.01.28

sábado, dezembro 26, 2015

Mar fervente




Ferve o mar como água numa panela
Que borbulha selvagem ao lume
É o Sueste que vejo da minha janela
E da maresia aquele suave perfume

segunda-feira, maio 25, 2015

fragrâncias do Verão

Fragrâncias do Verão
.
A menina como a sardinha
Quer-se da mais gostosa
A sardinha bem fresquinha
A menina de pito rosa
.

quarta-feira, dezembro 17, 2014

foi-çe*


Nisto erramos: em ver a morte à nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte.
Séneca




*(foi-se) - escrever errado ou escrever certo é indiferente pois que a ortografia da língua portuguesa perdeu todo o nexo que possuía por força dessa porcaria chamada AO90; portanto, que se foda...

sexta-feira, novembro 21, 2014

cartão salmão





Eu tenho um cartão
Com cor de salmão
De sóice do PSD
Mas em 2015, já
Não voto o costume
farto do estrume.

Qué’iss amamentar
PPP’s, banqueiros
E demais porcaria?
Posso lá sustentar
Tantos politiqueiros
Tanta rebaldaria?!

Com o País a errar
Exigiram-nos o pior
P’ro poder emendar.
Mas ficámos a nu
Eles vivendo melhor
Nós levando no cu.

Quer seja bom ou ruim
Hei-de votar diferente
Em 2015, lá no boletim
Vai cruz num emergente
Irei portanto, e assim
Apostar noutra gente.

Efe - 2014-11-21

Colectânea de Poesia kitschunga

sábado, maio 17, 2014

a draga preta



Ouvi agora senhores uma história de assorear

Contada nesta terra de grandes lobos-do-mar:

Lá vem a draga preta que tem muito que arranhar

Para remover tanta areia e o fundo aumentar

Em rias, rios, lagoas e praias do litoral

Arranha e chupa fundos em todo Portugal

Quereis vós senhores, os vossos fundos aumentar?

Então chamai a draga preta…

                               … que vos há-de arrebentar.

efe
Poesia kitschunga marítima



quarta-feira, abril 02, 2014

reestruturar... cautelar




.
Reestruturar ou não reestruturar, eis a questão: será mais nobre
Em nosso pecúlio perder dedos e anéis
Que a Europa, prestamista, nos exige,
Ou insurgir-nos contra um mar de credores
E sem luta, fenecer no suicídio? Morrer.. dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil caganças do homem português:
Morrer para dormir... é uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir... Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:
Pois quando livres do tumulto da existência,
No repouso desse sonhar que ousamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita
Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.
Quem sofreria os spreads e a taxas do mundo.
E se reestruturar não se decide, fica o cautelar por decidir
Que em coisas da decisão, sonhamos, sonhamos… que não.


paráfrase ChicoEsperiana

quinta-feira, outubro 24, 2013

voando



Num voo simples, um penoso afastar
Como teus olhos alheados piscando
Nesse bater de asas que rasga o ar
E rasgado resto, moribundo, arfando.

quarta-feira, abril 11, 2012

sonhei uma vela


Sonhei uma vela
Na extensa baía
Para lá da janela
Sonhei que partia

E o vento sopra tanto
Impele-me a partir
Desejando o horizonte
Querendo, apenas, ir

No sonho de navegar
Venço a adversidade
Parto, sem esperar
Deixando a cidade

Vou no barco à vela
Que me faz acreditar
Que no fim da viagem
Outro sonho irei tocar

No mar azul ondulante
Vai a branca vela içada
Que em mim navegando
Não pode ser afundada

Vogando em mar aberto
Entre o barco e o céu
Dou o sonho por certo
Toco, afinal, o sonho teu

Este imaginário barco
É um desejo que solto
Só não sei quando parto
Nem sequer quando volto.

terça-feira, setembro 20, 2011

O mais belo poema

O mais belo poema diz assim
Amo apenas um cabelo teu
E a gota de orvalho que dele
Deslizou e se desprendeu
Como lágrimas minhas, sem fim

E a razão porque um poema não se diz
É que depois, o poema prescreve
E da plateia um editor levanta-se e diz
Publicarei toda a prosa que escrever
Mas prometa poemas não mais fazer.

segunda-feira, setembro 19, 2011

os quatro humores do dia


É manhã de luz suave
Ofertando esperança
A dois vivos corações
Os dois numa só dança

E chega o Sol ao pino
No ardor desta emoção
Rodopia em desatino
Tão magna exaltação

Ai, co’as sombras da tarde
Arrefecido esse olhar
De fogo que já não arde
Vejo o fim a aproximar

E à noite, morto o sentir
Vai a alma desamparada
Na fé de repetido porvir
Vagueia só, tresloucada
Buscando aquele sorrir
Luz suave, na alvorada.

quarta-feira, agosto 10, 2011

os merdosos

Dizem-me maluco
maluco não sou
são pessoas fracas
em fortes cadeiras
que trocam por falsas
coisas verdadeiras

(efe. poesia erudita kitschunga)

terça-feira, julho 26, 2011

Castanho cueca

 
Ouvi-te quando disseste
Amor é tudo o que nos une.
Chorei.
Querida, esfreguei o cú
Na tua almofada
E deixei um risco
Castanho de Amor.

Efe (Poesia Kitschunga)
publicado na Revista de Poesia "Piolho" Nº3

segunda-feira, junho 13, 2011

ao figo



Ao figo


Cuidado, gulosos, muita atenção
Sob as figueiras, olho de camaleão
Mirada no figo, mirada no chão
Não seja o caso de pisar poitão.
- Ai que bela recordação.

E o engenho pr’à árvore chegar,
Saltar o muro, na moita agachar,
Esconder na sombra da figueira,
E então, nela, comer a fartar.
- Mesmo à feição.

No início do estio
Marcham marqueses e orjais
E com grande fastio
Também vão lampos e pedrais.
- Que consolação!

A meio do Verão os coitos
Atrás de inchários e braçajotos,
Depois comem-se os vindímos
Já em Novembro os sufenos.
- Ai, a intestinal revolução!

Sorvendo esses frutos divinais
E observando o rasto dum cagão
Vai a mente em figosofias tais
Sobre o calhau deixado no chão
Que depressa passam meses
E arribam os tempos invernais
- Uma desolação.

E lá pr’ó meio do Inverno, o figo torrado, durinho,
Pede bom medronho servido, um a um, ao calcinho.
- Ai, que grande porradão!

Para acabar te digo:
Desta herança dos que já lá vão aos que ainda cá estão,
Come lá mais um figo cá do nosso rincão.
- Ai, ai… corre… corre que vem aí cagação!

Efe – poesia kitschunga