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terça-feira, novembro 15, 2005

Estou aqui...

Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais
este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.
Fecha os olhos agora e sossega o pior já passou
há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão
desvia os passos do medo. Dorme, meu amor -

a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste
e pode levantar-se como um pássaro assim que
adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra
não hão-de derrubar-me eu já morri muitas vezes
e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos

agora e sossega a porta está trancada; e os fantasmas
da casa que o jardim devorou andam perdidos
nas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme,

meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e
nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já
olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui,
de guarda aos pesadelos a noite é um poema
que conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres.

Maria do Rosário Pedreira


A ti francisco e nana, que eu tanto amo...

segunda-feira, novembro 14, 2005

desânimo

Faço versos como um lamento
de desalento, de desencanto
sai deste blogue, se no momento
não tens motivo certo de pranto

E é poesia de sangue quente
que se derrama, caindo ao chão
vertendo das veias veloz e ardente
deixando-me vazio o coração

E esta poesia vomitada e louca
provindo de fel que sai e escorre
deixa-me intenso amargo na boca
pois faço poemas como quem morre.


Ele

2005-11-13

domingo, novembro 13, 2005

a mudança

inquieta
observo
atenta
a mudança
que passa


suspensa
numa réstia
de esperança

N.

Sentimento

Meu doce e cortês amigo
agradeço a preocupação
espero que o sono e a tv
não te afastem a inspiração.

Não consigo imaginar agora
que brincadeira seria...
mas se te pôs a rir e animado
por mal não a condenaria.

Amanhã julgo encontrar-te
se não for às 11 às 03
dedico-te o meu sorriso de alegria
e um sopro de meninez.

Vislumbro nas tuas poesias
pensamento e encantamento
vives com a razão
mas versas com o sentimento.

SF

Algum dia (aos antónios perdidos nos labirintos mentais)

Algum dia um novo Papa
anunciará altivo
que Deus é raiz quadrada
de um quantum negativo

e o Deus que tanto procuro
em que atingido me afundo
é aquele ser-não-ser
do que acontece no mundo

da matéria mais que densa
é que é divertido ser
ali se nada acontece
tudo pode acontecer.

in Uns Poemas de Agostinho, de Agostinho da Silva; edições Ulmeiro, 2ª ed. Maio de 1990.

A quem faz pão ou poema

A quem faz pão ou poema
só se muda o jeito à mão
e não o tema.


in Uns Poemas de Agostinho, de Agostinho da Silva; edições Ulmeiro, 2ª ed. Maio de 1990.

Escuto-te

Escuto os teus movimentos, o teu respirar
escuto o que pensas, como se te ouvisse falar
ouvindo-te mexer nisto e naquilo
e os teus dedos no teclado a teclar

Fico impressionado e penso
se tudo o que és e fazes
é assim por mim escutado
como não hei-de aceitar
ficar tão maravilhado?!

Ele
2005-11-13

O teu corpo (p/ R)

Nesta escuridão escuto
como se difunde a secreta ambição
de uma distância impossível

Quando na noite a saudade de ti avança
repito-me que não te evoquei
que é apenas uma provocação
uma partida da mente
e afasto-a rapidamente
para longe da incerteza
e desta cruel pureza
pois dela nascendo um desejo
nela se dissipa.

Ele
2005-11-13

escrever

Num silêncio de floresta escrevo
Lendo e relendo o incerto, inseguro,
aquilo que dificilmente compreendo
e me faz escrever estas palavras
obrigadas por aflições e equívocos.
A meio da noite escrevo
como um céu que se abre
mostrando estrelas brilhantes
para lá do infinito do azul
como mar que se evapora
deixando apenas o sal
sentindo-me já liberto
desta paixão que me reduziu
e agora é nuvem derramada
ainda insistindo em tapar o sol
mas que num lento adeus
declina rumo ao ocaso.

Ele

2005.11.13

quinta-feira, novembro 10, 2005

os nossos corpos (p/ N)

Os nossos corpos frente a frente
São por vezes borboletas
E a noite o céu onde voam

Os nossos corpos juntos
São por vezes longas lianas
E a noite a árvore que enrolam

Os nossos corpos ligados
São por vezes relâmpagos
E a noite a tempestade que iluminam

Os nossos corpos lado a lado
São por vezes frias pedras
E a noite o deserto onde jazem

2005-11-10

o teu rosto (p/ R)

O teu rosto resplandecente
irradia uma luz silenciosa
que tudo revela e transforma
em paraísos e ilhas encantadas
visitadas num voo de pássaro.
Esquecer esse rosto é trucidar o coração
Ignorá-lo é viver cego aos tropeções
Não preciso repetir-te que o teu rosto
Apenas me promete impossíveis revoluções


Ele
2005.11,10

quarta-feira, novembro 09, 2005

entra-me

E chegaste sem anúncio
Entrando por mim adentro
Como quem entra num automóvel
E parte por aí, à aventura

És como um almocreve
Que me traz novos odores de especiarias

E vieste trazendo contigo outro sabor
Um olhar diferente, um gesto novo
E contigo esqueço os tormentos
Mergulhando em ti nesses momentos

E a réstia de doloroso sentimento
Que não cede mas acalma
Sob o encanto do teu gesto
Parto na tua viagem
Mesmo sem viajar, sem partir, sem ir
Mesmo sem estar

E a memória já não magoa tanto
Porque esse sentimento dorido
Acalma nesse, teu, outro olhar

És um enigma que não resolvo
E assim continuamos por entender
Numa mão cheia de prazer
E um peito acolhido noutro

Solto-me
Preso ainda a umas grilhetas
Solto pareço-me vivo
Mas vivo pareço-me preso
Ainda do profundo sentimento

E se o teu calor me arrefecer esse sentimento outro
Renasço para o mundo que deixei forçado
Preso sou livre, pareço
Livre não passo de preso em começo

Rodopia-me a paixão em tarde de lotaria
Procurando acertar nos números
Que me trazem olhares, mãos e sorrisos



domingo, novembro 06, 2005

morrer por morrer...

Ando pensativo e tristonho
Por causa desta melancolia
E só tu podes mudar tal sonho
Em momentos de alegria

Nesse teu olhar de menina
E sorriso de vestal divina,
Trazes o azul que me enleia,
Contigo, do oceano, ó sereia.

E adoro-te assim tanto e tudo
Nesta triste e magoada situação
Deste sentir sublime, mas mudo
Como poeta que ama a paixão.

Num ardente e estéril deserto
Salva-me a tua imagem, alívio
Sinto o teu perfume bem perto
E já quase morto volto a vivo.

Ai, esse teu sopro, que delícia
Assim tão suave mas tão forte
Que faz renascer numa carícia
A minha alma quase à morte.

E a lua em noite de céu estrelado
Escuta os meus suspiros contidos
Nas labaredas deste fogo ateado
Que queima silêncios e gemidos.

A minha sede em ti se saciaria
Nas infindas noites de agonia
Em que ora prendes e escravizas
Ora me soltas e dás alforria.

Parar de te adorar é morrer
Como o é parar de tal coisa dizer
Como o é parar de assim te escrever
Pr’a mim tudo isso é morrer

E morrer por morrer
Morra por ti, por algo fazer
Morra por te ter ou não ter
Mas não morrer mudo e a sofrer

Estar por um sonho apaixonado
É nunca alcançar o almejado
Pois é grande e má aposta
Gostar de quem gosta da gente
Mas que por azar não gosta
Como queremos que goste realmente.

Ele

2005.11.06

segunda-feira, outubro 03, 2005

amizade

Começo por tentar transformar tudo em palavras
E assim se ficam, apenas palavras
Palavras que não sabem dizer tudo
Palavras que não conseguem reduzir os sentimentos
Sentimentos vorazes de ternura, carinho e amizade
Amizade indefinida, deformada nas vertigens de um ser alado
Ser alado, complexo, com asas que brincam no vento
Vento que sopra as nuvens e empurra um anjo
Anjo expulso, revolto, que decide tocar-te
Tocando-te solta o teu, e o dele/meu sorrisos
Sorrisos cúmplices… de amizade


Onde deixaste esquecida
A parte que em ti buscava?
A sensibilidade do ser
O sopro de qualquer vida?

Em horas para sempre esquecidas
Com a bela lua no céu iluminada
Em que a memória de ti me dava alento
Como o sol a uma flor na alvorada
Acreditava na simples felicidade
Do teu sorriso poder contemplar
Numa partilha entre amigos
Num simples e inocente relacionar
Mas, iludido, não sabia que fugias
Num profundo desconfiar

E eu, num aperto de alma atroz
Buscava no teu silêncio as respostas
Sem te ver, sem ouvir a tua voz
E esta paixão, assim, tão delicada
Querendo uma amizade desejada
Mas para ti incompreendida
Deixa a minha existência desolada

Onde deixaste esquecido
Aquilo que em ti procurava?
A capacidade de ser amiga
De quem de ti tanto gosta(va)?

Ele
2005-10-03

sábado, setembro 24, 2005

os lábios que dizem Deus (p/ Isa)




Os lábios que dizem Deus
São lábios que dizem Amor
E são eles que me induzem a mão
Os lábios que dizem Deus e Amor
o que saberão?

E dizem eles que a verdade não é una
Mas vive também noutra, e outra, dimensão
Não sei se dizem verdade ou apenas cultura
Mas sei que eles são uma fugaz, mas intensa
e doce provocação.

E vamos por este rio abaixo navegando
Seguindo livres de constrangimentos
Nas margens os preconceitos deixando
E somos breves intuições de livres, e belos
pensamentos.

segunda-feira, setembro 19, 2005

amiga

Minha amiga
como fios de seda sinto os teus cabelos agitando-se
quais chicotes que me acariciam as pupilas
castigando a ousadia de amar.
E na alva arquitectura do teu rosto
sinto os teus olhos como luas
que iluminam as noites do meu desespero
povoadas por estrelas errantes e incorpóreas.
Amiga minha
o teu olhar derrama as lágrimas
de milhões de constelações feitas e refeitas
pela tua voz quando assoma entre os teus lábios
num sussurro de criação divina
de palavras-carícia
elevadas dessa alma que bate
tão vincadamente.
Entenderás quão formosa é a tristeza
quão límpida é a lágrima que cai
que em dor profunda contrai a majestosa beleza?!
E no fim de tudo és um pensamento
meu
de luz pura.

2005.09.19
Ele

sábado, setembro 17, 2005

entre nós dois (p/ R)


Entre nós dois as palavras em silêncio
Entre os dois um só a sentir
Entre nós dois um claro fremir
De um, apenas um, num intenso pulsar

Na tua boca um murmúrio
Que cala a palavra TER
No teu sorriso uma promessa
No meu haver, o teu ser

Havia de, nas minhas, segurar a tua mão
Havia de calar, nos meus, os teus lábios
Havia de olhar, fundo, nos olhos
Havia de preencher o teu coração

Ele
2005-09-17

segunda-feira, agosto 08, 2005

Doce murmúrio de espuma

Doce murmúrio de espuma
suave refluxo de mar calmo
rasgando entre as pedras da baixa-mar
que finos raios de prata reflectem do luar
como cabelos teus flutuando
que libertam odores de ti
num breve abrir dos teus lábios
e dos olhos um ténue pestanejar
em teu sabor de amar

sonha o seixo que rebola
pela areia molhada na tua direcção
animado de espiritual emanação
ganham vida as coisas
pensando que são seres
desejando celebrar-te
como a que irradia vida
no teu toque de menina
pura, cristalina e divina

sábado, julho 09, 2005

Apenas uma palavra

Espero uma palavra
simples
pequena
inocente.

Que não chega.
E porque não chega
o vento Norte sopra-me
incessantemente
o teu nome.

E na noite estéril e desértica
olham-me os teus olhos
repetidos aos milhares
brilhando no firmamento.

E a palavra não vem
essa simples palavra
qualquer.

Sopra repetido
o vento Norte e
perdido na imensidão da terra
esqueço-me de mim.

Mas nunca me esqueço de ti.
Nem dessa palavra que tarda.

Mesmo aqui
tão longe do mar
escuto o marulhar das ondas
que se perdem na areia da praia
e também elas

me murmuram o teu nome
ao infinito.

Uma palavra apenas
saída dos teus lábios.
Uma palavra simples
pequena e inocente
que não chega.

Mesmo aqui
tão longe do vento Sueste
consigo ouvi-lo

açoitando as rochas
e empurrando o mar para ti.
Também ele repete o teu nome.

Peço ao vento Norte
que vai para o Sul
que te diga
para me mandares

uma palavra…
simples
pequena
inocente…
uma palavra qualquer.

sexta-feira, julho 08, 2005

tu

És o motivo deste louco sentimento
És a brisa que leva o meu barco
por esse imenso céu azul…
E suspiro em busca da tranquilidade
que só posso encontrar nos teus lábios
E murmuro palavras inconscientes
que me gritam por um terno e doce querer…
Mas não vens, não falas, não escreves,
não te vejo.
Será que existes?

quinta-feira, julho 07, 2005

ignoras-me

ignoras-me tu, luz do dia
não me respondes, não me ligas
é medo, repulsa ou maldade?
espero todos os dias uma palavra
apenas uma
simples
como um olá
ou um bom-dia

e esse silêncio de chumbo
que voga pelos dias
é grito de prata, ensurdecedor,
na calada das noites

porque me ignoras assim,
se só quero um sorriso?
apenas.

ignoras-me tu, luz do dia
não me respondes
não me ligas
é incómodo, ridículo ou jogo?
espero todos os dias uma palavra,
apenas uma
mesmo escrita bastava.

e nesse silêncio de chumbo
que voga pelos dias
e nessas noites em que o silêncio de prata
grita, e o meu peito se aperta
afogo a multidão de vozes de ouro
que me murmuram o teu nome