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quinta-feira, abril 21, 2011

ressonâncias

Detona o Sol em lances fundidos
E vem Lua nova na maré subida
Do caminho longo, já aturdida
Lívida, arfando, assaz cansada
Vem arrastando os pés doridos

E sobe penosa a encosta final
Parando à porta do vetusto lar
Ajoelha lentamente, faz o sinal
Depois cai, exausta, amparada
Na sua sombra ao luzente luar

E termina o dia a ressonar




poesia kitschunga

segunda-feira, março 21, 2011

dia da poesia

isto é um puema kitschunga
ó dia da puesia

Chegou a primavera
Que anuncia o Verão
Do caboz à cegonha
Seja gente ou bicho
Ou tá cheio de tesão
Ou do pólen marado
Anda com comichão
Parecendo gazeado

Entrou a Primavera
no céu avoa a andorinha
e no mar brilh’a sardinha
e eu fico a ver pasmando
o fim do dia, à tardinha

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

O baile na aldeia


Harmónio ou concertina
soa ali na eira vizinha,
limpa de grão e palha,
ao fim do dia, à noitinha.

Já é hora do bailarico,
o tocador aperta ó fole
faz gemer o acordeão
a mocidade emparelhada
rodopia na bailação.

Roda, pula, não fica parado
volteia à direita e leva o par.
Assim se baila no eirado,
toda à noite até o Sol raiar.

E sucedem-se as modas,
as mazurcas, os fandangos,
vem a valsa de Odemira
mais um malhão certinho
e lá do norte soa o vira
depois volta ao corridinho.

Eia roda-viva de outrora,
ordenada pelo mandador
entoada pela cantadeira
feita de alegrias simples
da dançarina e do bailador
no terreiro da nossa aldeia.

Foto-poema feito no baile de Barão de S. João
do mandador Deodato

sábado, novembro 06, 2010

sobreiro




.
Exausto já ia de cansaço
quando o belo sobreiro vi,
verde, belo, sozinho, ali
dando sombra e frescura,
para descanso da andadura
a qualquer forasteiro,
assim está o sobreiro
que na sentida solidão
chega a desejar a ventania
que atira as bolotas ao chão
e faz dos porcos companhia.
.

sábado, agosto 14, 2010

Mar de Fora

Tolice
Descodificar/interpretar um poema é coisa insana, porque é inútil. É como partir em bocados uma imagem para procurar a razão da existência daquilo que ela documenta. Portanto, não irei mais longe do que uma abordagem superficial sobre o livro. Deixo o mergulhar mais fundo neste mar para quem o sabe fazer.

Da poesia
Porque a poesia, toda a poesia, tem dois temas principais, sentimentos de quem sente e a terra de quem vive. É disso que se fala, e raramente de outra coisa. Nomes, rostos, flores, estrelas, pedras, acabarão por remeter para os sentimentos, ou para a terra que ocupamos, com as suas cores, odores, formas do casario, e a agitação da vida da aldeia ou da cidade.

Henrique
A poesia é um diálogo feito de monólogos. Muitos poemas são apenas reflexões íntimas do seu autor mas outros suscitam reacção, convidam ao diálogo, são feitos de palavras que mergulham no interior da pessoa ou da cidade, tocando múltiplos cais de embarque e desembarque que são reconhecidos pelos viajantes/leitores. E essa partilha convida ao diálogo. Os poemas de Henrique Graça são desses, mas são translúcidos, exactos e concretos. Neles não reina a subjectividade, a redundância, a hipérbole, não pontifica a retórica nem maquilhagens ou decorações da escrita. Não há duplicidades. Também não são fragmentos nem ícones. Não são abreviaturas. São percepções completas, embora naturais e francas.

A coisa que seduz
O objecto livro “Mar de Fora” é atraente e dirige a curiosidade, depois encanto, para as palavras, poucas, que suporta. Sendo poucas mas cristalinas, estas palavras conferem uma leveza etérea à obra. Eis o livro enquanto objecto de sedução. E isso não acontece por acaso; para além de anunciado no subtítulo “três sets de escrita com capa, grafismo e desenho”, ao manusear o livro imediatamente damos conta da importância do espaço no papel, seja a mancha preenchida ou a área em branco, seja o uso exclusivo das páginas direitas, ou a opção pelo formato escolhido, os separadores negros como a cortina da noite que cai e anuncia um novo dia, ou a gravura da cidade sugerida em massas disformes, tudo foi pensado para seduzir a mão e o olhar e com isso convidar a ler, a prender às palavras. É simples, e tantos não sabem.

Mas é mar
“Mar de Fora” não é um mar espelhado, não é um mar chão. Tampouco é um mar tempestuoso. Também não é um mar rendido, agora bonançoso depois da tormenta. É antes um mar de vaga ampla, discreta, suave, um mar superficial que rebola sobre um outro mais fundo - os que andam no mar sabem do que falo. Em suma, eu leio um mar que reflui e flui dissipando-se repetidamente num véu de espuma branca que vem repousar suavemente nos areais dourados, sob os nossos pés.

Ir mais longe é ir ao fundo. Fico por aqui, e reproduzo um dos refluxos preferidos deste mar de fora.
Francisco Castelo, Lagos 2010-08-14


choro
porque te queria
aportada mais cedo
nos meus braços

choro
porque quero
que nunca me partas
assim o crepúsculo chegue

choro
porque um cheiro
silvestre de flores
nunca me parou assim

choro
porque ainda encontro
o macio das tuas mãos algodão
amimadas no meu peito

choro
e as lágrimas escarpadas
não são mais que espelho e oxigénio
tudo ainda mais vivo e a pele aquecida

afinal choro
nunca foi nada assim

“Mar de Fora” - Henrique Graça – Lagos, Março 2010 - ISBN 989-96650

terça-feira, junho 15, 2010

domingo, maio 09, 2010

Efígie



Perto do coração a guardava
Em pequena caixa refulgente
Que abria repetidamente
Logo que a saudade assaltava
Levando a alma penitente
Ao frémito num momento
A meio da rua, sob a palmeira
Na canícula ou ao Norte vento
Lembra, assim, a flama verdadeira

.

sexta-feira, março 26, 2010

felicidade

Não é fácil encontrar a felicidade em nós mesmos, e é impossível encontrá-la em qualquer outro lugar.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

na azenha

Tu, debruçada no varandim A camisa molhada alva de cetim E o meu olhar em ti fixado Ora inocente ora culpado O pano tapando do seio a metade Mostra o mamilo erecto apontado Ao riacho que corre urgente Como o meu querer nos labirintos do ser Arrebatado com a água suspensa no ar Poalha das rochas que sobem do leito E a visão celestial do teu sorriso Radiosa neste amanhecer perfeito E bebo da tua cristalina formosura Que acalma o fogo que trago no peito Saciando por instantes a imensa secura.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

memórias de ti

No mar azul de Agosto
Em perpétuo movimento
Esqueci o teu belo rosto
Até que ergui o meu
Ao céu de anil intenso
E o lembrei de novo
Belo, sereno e perverso.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Esoestérico

Neste esotérico quotidiano
Diurno
Alternado em noite
Nua e carnal
Procuro um veterinário
Para curar o animal
Pequeno
Ferido
Que geme
E oiço
Ténue mas real
O seu gemido
Por entre o dilúvio de luz
Laminada
Em agitação temporal
De cores frias
Azuis e verdes de fel
Procuro
Repito
O mel
Encontro mais adiante
Perdidas no escuro
As emoções contidas
Duplicadas no céu
Nas flores repetidas
Explodindo adiadas
Até que
Caindo
Permanecem quietas
No silêncio
Final
Paradas.
Curado
Levanta-se o animal
Esoestérico humano
Embryos containing human and animal material have been created in Britain.

POESIA KITSCHUNGA

sábado, janeiro 02, 2010

De poeta e de louco, nunca tive pouco

Os que se dedicam aos versos
artífices de inusitadas visões
às musas devendo inspirados
poemas, inflamadas paixões
tantos sonhos desvairados
ilusões e ocultas ambições
advindo da noite aos poucos
suaves entre sombras e casas
revelando a todos, os loucos
sãos que voam alto, sem asas.

terça-feira, dezembro 29, 2009

é a vida


"Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada."
Fernando Pessoa

sexta-feira, dezembro 18, 2009

voo

Pedras talhadas em ângulos
redondos
reverberando a luz zenital
no metal vertical
logo reflectidas
nas tépidas águas.

Ali, corpo imerso
e alma flutuando
aguardando o sopro
da minha boca
exala um leve som
de olhos cerrados
nas profundidades
superficiais
do lago.

Silêncio denso
após gota que cai
dentro do corpo
suspenso
imóvel
inerte no líquido
que dilui
o odor a terra que se eleva
do labirinto subterrâneo
onde o ouvido escuta
as bátegas de água
que alimentam a vida.

Ecoam flautas zoomórficas
que abrem parêntesis
e resgatam estrelas
da incomensurável
profundidade
do buraco negro
que engoliu
perverso
as minhas ilusões.

Posso voar.
Sinto-o no corpo.

...
Desespera-me tanta gente sossegada.

...
Voo.

(efe - colectânea de poesia kitschunga)

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Alentejo

Não tem exactamente a mesma luz do Algarve mas tem a calma, o verde, o sol e, sobretudo, o silêncio que o Algarve já perdeu há muito. E uma proverbial indolência inerente aos próprios lugares como que envoltos numa manta de retalhos. Uma manta formada pelo riacho que passa delicadamente por entre os seixos, e os medronheiros suavemente embalados pela aragem que se contorce nas encostas, e o brado da rapariga que chama não sei o quê, ecoando em espiral para o vale numa toada longa e musical. E o “você” com que se tratam gentes e animais, próximos ou alheios, numa delicadeza de diminutivos e outros mimos que o isolamento da serra ou a extensão da planície induzem. E é esta quietude que o Alentejo possui, como um segredo do ritmo da vida e da respiração dos seres, é isto que atrai e enfeitiça.

terça-feira, novembro 17, 2009

num grão, apenas


O teu véu é um suave murmúrio de espuma em seda que desliza pelo colchão de areia sendo nele ausentes os seres desencontrados e diferentes que o espírito das águas anima a partir na manhã cinzenta enxuta e fria perdida nas memórias do que nunca aconteceu por mor de futilidades transformadas em gravidades imensas encerradas num grão de areia.

quarta-feira, novembro 11, 2009

no silêncio da chuva



Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

quinta-feira, outubro 22, 2009

Balada da Neve

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
– e cai no meu coração.


Agusto Gil in Luar de Janeiro

sexta-feira, outubro 16, 2009

ilha

Sós
em ilha distante
eu
pássaro
de coração encetado,
tu
reflexo da lua,
brilhante.

os dois
estendidos
no areal
sob o manto de estrelas
cintilantes,
o meu olhar
imerso na tua formosura,
e os minutos
em horas
mudados,
e o braço
envolvendo a tua cintura.

bebo
eu,
pássaro,
a tua doçura
e canto,
os lábios apertados
de amargura.

sábado, outubro 03, 2009

num anjinho da Teresa para a Maria

oh anjinho...anjinho.... de pau feito
contigo todas as irmãs se levantam
contigo, eu freira, me deito!

colectânea de poesia kitschunga de efe

;x

segunda-feira, agosto 24, 2009

mente...mente

insidiosa mente
se movi mente
nervosa mente
expectante
de palavras
em papel
procura
saber
se
.
engaja gente
im pertinente
que frequente mente
mente
descarada mente
mente
procurada mente
mas não engana
a gente
.
quem mente
desespera da mente
e aguarda
sofrendo
merecida mente
.

quarta-feira, julho 29, 2009

arco-íris (p/ Ele)




Prostrada sou uma ilha que percorres
E descobres as zonas mais sombrias
Mas nem sabes se grito por socorro
Ou se te mostro só que me delicias
Amigo, amor, amante, amado… eu morro
Da vida que me dás todos os dias

Eu ponho e reponho o meu destino
vou mais longe naquilo que disfarço
Eu ouso o coração e reafirmo
Bordando o arco-íris do que sou frágil

N.

sábado, julho 18, 2009

Peganhento

Colados os barcos ao espelho de água, colada a camisa ao corpo, colada a alma às tripas nesta quentura húmida de Verão sombrio. Presos os pardais ao chão debicando migalhas indolentemente e grudadas as adriças aos mastros sem aragem que as anime nesta pegajosa e quente calmaria escaldam as pedras da calçada e o alcatrão na sombra. Derretem corpos nesta savana estival sem refresco na água tépida imóvel. Exsudando nos areais das praias jazem os corpos inanimados. E do horizonte um ponto se transforma de cinza em branco. Oculta na vaga cavada, apenas com o velame à vista como uma ilha de panos no céu, vem um barco da conquista. Lentamente aproximando, mudo no bater de asa, num desejo maior, na angústia como gaivota pairando no regresso a casa. Os olhos do marinheiro já não fecham nem abrem, são olhos que muito viram, olhos que muito sabem. E peganhento!

domingo, maio 24, 2009

Última Visão Perfeita*

Posto que os mestres todos concordaram
em que era preciso
em que era mesmo o mais importante de tudo
olhar de cima o que está debaixo
para ver debaixo o que está por cima
e claro concordaram todos
diferença de escada ou melhor ombros
quando o corpo ficou decisivamente cheio
decisivamente apto a recomeçar tudo
os abutres até os corvos encetaram imediatamente
um trabalho de fazer sacos
encher armários
e dar voltas à chave sobre o trinco comum
do vidro de ver-se por fora o que está por dentro.

Naturalmente que isto não causou sucesso
pois ninguém se importou vamos lá nada
os mestres os próprios mestres o confessaram
e mesmo começaram a escrever números
ou melhor uma distância grande

Isto sucedeu todos os dias
Calendários diários contaram sempre
tudo com uma distracção perfeita de pancadas
os sinais eram cada vez mais nítidos
pois era evidentíssimo que já nem
reparávamos sequer

quando um idiota perfeitamente solene
berrou que não era preciso
coisíssima absolutamente nenhuma.

Nada
não era preciso nada

a não ser

a loucura de o dizer.


..................................................

O absurdo aparente da desrazão da vida hodierna, num belo poema *de Vieira Calado. Mais poemas para apreciar no blogue do autor, aqui.

sexta-feira, maio 22, 2009

arroto

.
Um arroto
depois
de um bom almoço
é
um
POEMA!

.

quinta-feira, maio 14, 2009

uma coisa a fingir

Acreditamos piamente
Que é mal da memória
Um mal do antigamente
Como um fado da história
E não coisa do presente
Ter políticos fingidores
Fingindo continuamente
De engenheiros sabedores
E nós, crendo cegamente
Cuidamos, enganados
Que tais subtis doutores
Regem bem, honestamente
Porém, ai…fomos roubados!
Pelos pulhas fingidores
E quando abrimos os olhos
É tarde…
… estamos cagados!

Poesia kitschunga parida numa janela de comentário

;p

sexta-feira, abril 24, 2009

isto...

... é um poema

quarta-feira, abril 01, 2009

Ao amanhecer


Na neblina viscosa e húmida
vejo o fantasma de um barco
caravela de muitas descobertas
perdida na vastidão das águas
ao amanhecer.

Num momento de contemplação
observo-a voando em linha recta.
Linha imaginada no centro do rio
ao amanhecer

Nessa hora ainda difusa e húmida
que em mim traduz a solidão
observo a gaivota que voa
e ela prende-me com um laço
ao céu, ao rio, à memória de ti
outrora ancorada no meu ser
ao amanhecer.
.

quarta-feira, março 25, 2009

vasos sanguíneos dilatados

Como árvores noutra distância
um bando de nuvens vindas de longe
ancora no azul pálido do meu céu
Meu?
E nas águas lisas se reflecte
o rosto simétrico iluminado
quase materializado
quase matéria inaudível
um rosto quase morto
na sombra do barco flutuante
Meu?
Pensativo no constante partir e chegar.
Que faço aqui, encerrado em corpo
herdado que me é estranho?
Eu sou eu?
E este corpo é meu?
Se sim, não sei.
Nem se espera um começo, amanhã
o teu.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

borração


bebendo, bucólico
um alcoólico
chora um desamor
de coisas falsas
mas, de repente
dentro das calças
um viscoso sente.
:\

domingo, fevereiro 08, 2009

poesia popular, certamente

POEMA da 'MENTE'

Há um primeiro-ministro que mente.
Mente de corpo e alma, completa/mente.
E mente de modo tão pungente,
Que a gente acha que ele mente sincera/mente.
Mas que mente, sobretudo, impune/mente...
Indecente/mente.
E mente tão habitual/mente,
Que acha que, história afora, enquanto mente,
Nos vai enganar eterna/mente.

sábado, janeiro 17, 2009

platonismo violento




Que mulher tão garbosa! Vê-la, amá-la,
Foi questão de momento. Alucinado,
Despenhei-me a seus pés avassalado...
Não podendo da mente mais riscá-la!

Gastei parte da vida a requestá-la,
Sentindo o meu amor galardoado
Sómente com esse olhar meigo e velado,
Com que a via vendo-me indo vê-la!

Mais que a terra ama o sol quente formoso,
Mais que os anjos a Deus, endeusei-a...
Dedicando-lhe um culto fervoroso.

Não sei bem, se de amor, se de dó cheia,
Quiz um dia elevar-me ao céu do gozo...
E lançou-se nos meus braços - Desanquei-a!!!


:D

segunda-feira, janeiro 12, 2009

lareiras da treta


Como lareira na Invernia
O meu amor por ti ardia

Fosse noite fosse dia
Incendiando o peito ia

Como fogo em brasia
Queimando lenha à porfia

Até que, num certo dia
Consumida a carvoaria

A lapeira ficou vazia
E hoje, gélida, jaz fria

Agora, se buscares renovado amor
Terás que arranjar, um bom aquecedor.

:D

quarta-feira, novembro 05, 2008

O sino e o relógio



marcam tempos diferentes
em séculos de disputa
para orientar as gentes
cala-se na torre o sino
o relógio vence a luta
mas é assaz enganado
o tempo traça o destino
e o relógio fica parado
.

sexta-feira, outubro 17, 2008

A briosa tartufa

num limbo incerto
estou
e um cavalo xairelado
está
pastando languidamente
no ervascal
.
e o silêncio
.
em contra-luz
ela
sob a xamata persa
de pé
imóvel
no limite do horto
desligada do pensamento
parada na memória
de alguém
atirado ao origma
num tempo longínquo
quando as flores
minúsculos botões
suspensos
aguardam
ainda
o raiar da luz
que as avelhenta
.
no outro canto
eu
ávido
de um olhar alegre
aguardo
incauto
do teatro
que mulher
e cavalo
aviam
o regresso
da Lua
e a verbena
que reunirá
as bacantes
.
por dentro
sorri
ela
petulante
.
por dentro
arrefeço
e
esqueço
.

sexta-feira, julho 18, 2008

Glosando coisas arcaicas

Menina,
Meus olhos ficam tão tristes
Quando escondes o teu sorrir
Que nunca tão tristes vistes
Janelas, assim, do sentir

Menina,
Ficam meus olhos tão tristes
Saudosos do teu sorrir
Que nunca tão tristes vistes
Em tão profundo penar
Olhos que te vêem ir
Esperando o teu voltar

sábado, julho 12, 2008

no calor dos dias

Ofuscado pelo calor do sol reverberado na calçada polida, em redor dos canais por onde circulam estranhos, assalta-me a maldade de escrever. Maldade que me cometo, afrontado pelo desejo de explorar insuspeitos recantos de mim. Queima-me por dentro o ar quente deste Verão, quase tanto como as palavras que chocam entre si procurando o sumidouro para o exterior de mim. Se me aproximo do rio atiro-as às rochas, estas palavras ardentes. Por isso vagueio pelas ruas interiores, longe do mar, resguardado da aragem de Norte. E ardo, os pés na calçada, os pulmões ao ar, e nas veias as palavras rubras como pedras luzidias no entardecer.


segunda-feira, junho 30, 2008

a foice doirada


lado a lado
na sombra dos choupos
na margem da ribeirinha
olhos semi-cerrados
deixando entrever
reflexos prateados ondulantes
quais farrapos de sol algarvio
que a ramagem coa
para as ondas saltitantes
da água serpenteante
entre seixos lustrosos

encostada a mim
reclinados na margem
sobre manta de retalhos
que cada quadrado
evoca um serão serrano
cosido à lareira
de histórias antigas
em noite
sem fim

uma mão percorre-te
na outra a foice sagrada
da coxa detêm-se no ventre
quente
palpitante
de emoções
que te fecham
as janelas da alma
colando as pestanas

e a cabeça descai-te
no meu ombro

suavemente
provo os teu lábios
enquanto
num ramo mais alto
um guarda-rios trauteia
uma melodia
preenchendo-te-me os vazios

e eu
druida no bosque
por vezes homem
noutras fauno alquimista
enlaçado na árvore que és
como cada mulher
transformo-te-nos a tristeza
numa alegria presente
que não deve ao passado
e nada espera do futuro

esse devir que não existe
pois não é mais do que agora
visto de ontem

e essa criação
é a alegria momento
com que me
toco-te
por dentro e por fora
levando a foice doirada
a beijar
o imenso verde
dos teus olhos.
-
(para paulah, a quem nunca dedicaram um poema antes)

quarta-feira, abril 16, 2008

nos teus olhos, o universo

Nos universos que me habitam
encontrei os teus olhos escuros
num edifício enorme
sobranceiro ao mar
de ondas revoltas
que se quebram
nas minhas mãos
provenientes dos confins
dos universos que habito

Encontrei-te ontem
e antes disso
sorriste também
mas não era alegria
e sim apreensão
nervosismo, receio
de te perderes
nos universos que me habitam

És apenas uma miúda
que tudo vê de um só ângulo
ainda não aprendeste a coragem
de quem caminha na chuva
de quem não teme molhar-se
de quem não estremece com trovões
encolhida, nada adianta
o universo tudo contém e absorve
tudo molha e tudo seca
como o universo que habito
nos teus olhos escuros.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

fumos frágeis

do cachimbo sai
um calor que invade
expelindo-me a alma
em volutas de fumo
que se libertam
equilibrando nelas
a vida

e nesse receptáculo
o prazer da inspiração
melancólica e alegre
da livre escolha
entre luminosidade
e clandestina presença
cresce de/em mim

domingo, janeiro 13, 2008

tacteando


Cego nesta emergência
de ver, ouvir e fazer
de histeria
que roda as horas na velocidade do ponteiro dos segundos
preso no tempo do Tempo.
na inquietude que impede olhar o horizonte todo
punindo a felicidade de admirar o belo
no cimo do monte.
e apressa as pernas, erradamente trémulas
na descida aos vales
luxuriantes
doces

ais

regresso ao tédio
repetindo-me
cego.



foto: "nana"- efe

domingo, novembro 18, 2007

telhas



Telhas
de topo ou corredeiras
humildes ou sobranceiras
novas, gémeas, indistintas
aparam a água da chuva
o calor, o frio e o vento
criando cicatrizes ao tempo
velhas, cheias de ranhuras
já não abrigam tudo, porém,
algumas, estancam nas crostas
o bater repetido das agruras
mas serão, ainda, telhas
protegendo, bem ou mal
que telham o presente?
ou será que, afinal
não são telhas, mas gente?!

segunda-feira, setembro 17, 2007

Adoração, seria?

Adoração, apenas, seria?
Amor, amizade ou paixão
Houve, há ou havia?
Dentro do meu coração
As coisas são como são
Não aquilo que queria

segunda-feira, agosto 13, 2007

fosse eu pintor


Fosse eu pintor
e criava-te
desenhando os teus olhos
com dois traços a boca
uma pincelada, o ventre

E fazia-te jovem, bela
e eterna
desenhada na mais profunda nudez
com alma pura descoberta
olhos cintilantes
e os lábios em rubor
dedicando a infinitos amantes
ardentes beijos de amor


arte gráfica de Zichy

sexta-feira, agosto 10, 2007

co'a pedra


Maldita pedra que dói assim
E me estraga um e outro dia
Vogando lentamente no rim
Como o barquinho na baía
Navegando diante de mim


quarta-feira, junho 20, 2007

poema com palavras

palavras gastas
sem sentido
palavras perdidas
entediantes
desconhecidas

palavras maltratadas
amputadas
escorraçadas
desprezadas
desamadas

são as palavras que jazem
nos dicionários e livros
dos modernos e dos antigos
desaprendidas e esquecidas
essas pobres palavras
nas línguas das novas bocas
imberbes, pueris e loucas

lentamente, os signos transfiguram-se em símbolos
repetidos à exaustão nesta sociedade alucinada
drogada em miragens e discursos visuais estéreis
que transformam palavras em seres hostis

mas esta pequena palavra
que ficou aqui, assim, esquecida
quieta, serenamente adormecida
em que pego ternamente
como num passarinho doente
e coloco letra a letra
dentro de mim, suavemente
sem temer qualquer perigo
guardo-a para usar generosamente
esta simples palavra “amigo”

sexta-feira, junho 15, 2007

terça-feira, maio 15, 2007

lulas cheias

.
que morra a poesia

e fiquem apenas
as cascas das palavras
que rechearei
com chouriço
arroz
especiarias
e raios de cefalópode
que comerei
.
já que uma Lua cheia
nunca me encheu a barriga.
.

sexta-feira, maio 11, 2007

tu, eu

Eras tu, e era eu
num vórtice eterno
de ternura, e não coisa diferente
em tempo suspenso, no presente
era o que construía na mente

Eras tu, e era eu
querendo, igual ao meu, o sentir teu
numa relação simples, nada atrevida
como a luz natural
no céu azul da vida

Sem fugas nem mentiras
em livre relação sincera
de pura e firme verdade
de simples, simples amizade

Eras tu, e era eu
os dois sorrindo
de nada mais que simpatia
era isso simplesmente
e apenas isso, o que queria.

Porém, sem saber
da nossa semelhança
descuidei, e comprometi
mesmo com a perseverança
naquilo que procurava em ti
esse pouco que havia, perdi.

Insisti no que querias esconder
nunca sendo ofensa para mim
era coisa complicada para ti
e assim, acabei por te perder.

Mesmo longe de mim
afastada do olhar e do sentir
sem poder de novo, sorrir
continuo a gostar de ti, assim.

domingo, abril 15, 2007

pergunta à maresia


frente a este rio calmo
de símbolos
de sonhos
de esperanças
estou só
em meia memória
fazendo perguntas
obtendo respostas
mudas
do rio
como ouso perguntar?
como ouso?
como posso ousar?
senão esta
que outra história?
Entre maré que vai
e outra que vem
não devo ousar
tocar
nessa memória.

quinta-feira, abril 12, 2007

semânticas

.
amar não tem apenas sentido passivo
tão-pouco apenas activo
está num meio-termo
conjuga-se a meio de dois corações.

dizer “amo alguém”
é dizer o quanto me quero bem
é como quem diz “confesso-me”
e no preciso momento em que me revelo
a revelação é feita a mim também.

eis que toquei o mundo dos deuses
e o dos homens numa só expressão.
amor/humor
.

se viesses hoje

.
Se tu viesses ver-me hoje

movida por suave toque de loucura
E me tocasses com os teus lábios
com desejo e desenvoltura
com muita graça e desconfiança pouca
e me prendesses num abraço de sentimento
com os teus beijos e o teu sorriso
Se tu viesses linda e louca
entraria no Paraíso
.

quinta-feira, março 29, 2007

são linhas



são linhas

de horizontes
de alvorada ou entardecer
linhas verticais
coladas umas
outras montadas
com horizontais
juntinhas
sobrepostas
pesadas
são as linhas
firmes
coloridas
acesas ou apagadas
estão em tudo
estão vivas

linhas de árvore, chaminé ou quarto
linhas que crescem quando chego
linhas que minguam quando parto

são linhas que ligam
interiores
de uns a outros
gente a gente
gente à cidade
são linhas de ida
e de regresso
são linhas da vida

são milhões
as linhas
são minhas
são tuas
regressamos por todas
vindo por duas
.

quinta-feira, março 15, 2007

para acabar de vez com a poesia

mo rr e s te

.me

no q u int al


gai

vota


enca.........lha da


n uma




es pia



da cha

mi









DA




la r e ir a












bem feita!

terça-feira, março 13, 2007

mais um poema kitschunga

sino, porque raio bateste tu?
já a deitara, a muito custo
e pregaste-me tamanho susto
que saltei pela janela nú
julgando chegar o pai augusto

ai sino da minha perdição
se me denuncias as marteladas
não darás mais badaladas
mando-te para a fundição


"puema" parido dentro da janela dos comentários do blogue http://tristeabsurda.blogspot.com/

paixão

paixão
não é mais
que exaltante ilusão
que a maravilhosa irracionalidade
nos impõe, de supetão
em qualquer idade

sexta-feira, março 02, 2007

ai quem bem que se está aqui

vivo numa oclocracia
à beira-mar plantada
chamam-lhe democracia
anda mal disfarçada

e a massa ralé, iludida de poder
vive de bodos e perene abastança
mas quem manda, está-se a ver
é a oligarquia da alta finança

e esses finórios de grande manha
que devoram toda a esperança
são filhos de padres de Espanha
e primos de pedreiros de França

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

uma vieirinha

Não posso assegurar
se a minha doce amiga
gosta ou não de contar
que é por mim irritada
devido ao seu azar
por ser desmacarada
de perfídia padecer
tentando tal ocultar
e a verdade esconder.

Dessa linda menina
somente posso dizer:
É bela e maneirinha
parecendo reservada
vivendo em conchinha
mas é subtil e ousada
como no mar a vieirinha.

terça-feira, janeiro 23, 2007

A intensidade das coisas

A intensidade das coisas
define-se no espaço,
o seu perfil intransigente
habitado pelos ângulos da luz.

Nada se afasta do seu interior acto de destruição,
a fenda do nevoeiro envolvendo
o halo dos rios, numa ideia que passa.

As coisas são o espectro próprio das coisas,
o seu movimento fortuito, uma voz lenta
descrevendo os cinzentos, a cor negra
das ausências, como um canto extinto.

Apenas permanece, no decurso aberto
que habita as lembranças, uma intensidade
idêntica ao exercício rigoroso das palavras.

Inédito
Vieira Calado

quinta-feira, janeiro 18, 2007

a cada uma das minhas amigas

amizade é sentimento
que brota dos corações
devia ser alimento
matando fome a milhões

mas não posso alimentar
tão faminta multidão
apenas te quero guardar
num cantinho do coração

o melhor que eu senti
a maior preciosidade
foi mesmo sentir por ti
uma sincera amizade

sábado, dezembro 02, 2006

poema

Sentei-me na varanda dos teus olhos
E fiz um poema ao branco das flores
Foi o poema mais belo que fiz
Não tinha expressões roubadas aos dicionários do dificil
Não necessitou dos pássaros de Llorca
Não falou das areias do deserto
Nem do fogo da noite que arde
Ou de voos envoltos em branco de luar
Tinha a tranquilidade dos eremitas
E o silêncio da tarde onde a tarde se cala
Tinha o fresco da madrugada e o vermelho do sol
Do dia que nasce a esperança que ri..
O poema mais bonito que já fiz
Dizia apenas
Gosto de ti...

quarta-feira, setembro 20, 2006

uma alegria que flui

Em desmaiadas estrelas
anunciada alvura do dia
aparta-me os braços
da noite enlaçados
na memória ferida

Abro os olhos
e observo detalhes
da beleza que cerca
apagando resquícios
de perfídia

Escuto o som outonal
em melodia
que o vento toca
como bom jogral

Melancolia ultrapassada
desperto agora
da mágoa superada
em pujante e deliciosa
alegria.

quinta-feira, agosto 31, 2006

gira o catavento


Gira, gira o catavento
Volteia cortando o ar
Empurrado pelo vento
Roda certo sem pensar.

Num eterno lamento
Diz-me coisas sem falar
Em segredos que conta
Num suave murmurar.

É um vento exaurido
Que parece o suspirar
De um coração ferido
Por não poder amar.

Podias ser catavento
Galo, peixe ou pavão
Afinal és uma flecha
Disparada ao coração.

E este vento amigo
Que traz o teu perfume
Faz-me sonhar contigo
E alimenta-me este lume.

Pára quieto catavento!
E deixa-me descansar
Porque já não aguento
Todo este rodopiar.

quarta-feira, agosto 23, 2006

apenas isto


Neste fervor
assaz suspeito
o meu querer
é ver-te
e aceitar-te
como és.

O meu desejo
é falar-te
e construir
com as palavras
uma pequena ilha
encantada.

O meu sonho
é ficar-me
depois
absorto
e enlevado
na recordação de ti.

Sem razão especial
sem pretexto adicional
e meu propósito é
ser-te franco
e receber
a tua sinceridade
para que entre os dois
não exista falsidade
nem o horror do silêncio.

A minha esperança
espera
que um dia
um qualquer dia
próximo
ou distante
a tua necessidade
de mim
por um qualquer
simples
ou ignoto motivo
te traga
envolta num manto
de serenidade
e
sem constrangimentos
te entregues
à minha
incondicional
amizade.

francisco

quarta-feira, julho 19, 2006

SERENA IDADE

serena idade
quebra ondas
em velho cais
eu
salpica
emoções
de sal
deixa sede
sorriso teu
colhe azul do céu
em tapete
caminho meu
olhas para trás
na incerteza
e ternura
ofereces tu

domingo, maio 21, 2006

Adeus

foste um amigo
sempre sorridente
cheio de vida e alegre
sempre presente

e quando a doença te negou a alegria
encontraste motivos para sorrir

eras tão simples mas tão generoso
que encontravas
num jogo de cartas
ou no futebol
um ânimo contagiante e poderoso

foste um simples a quem a vida
alegrias duradouras não quis dar
mas à qual insististe
sempre
em arrancar

vencidos os sofrimentos
descansa agora em paz
pois sem mais lamentos
ficará a tua memória
nos nossos pensamentos

a Leonardo Carvalho (n. 04-04-44 / f. 22-06-06)

sábado, maio 20, 2006

da felicidade


atravessando
ao crepúsculo
o ar denso
quase impenetrável
e silencioso
de cor mudada
que assiste
ao lamento
doloroso
de uma árvore
que morre
encontras
na música suave
da aragem ténue
a alegria
das vidas
que recomeçam
na morte
dessa árvore
e tu sorris
feliz

como uma borboleta




borboleta esvoaçando
entre ramagens e folhas
cirandando raios de sol
pairando visível agora
logo em sombras oculta
planando em cores de asa
em círculos e hipérboles
de ternura matinal
aproximou-se
poisou nos meus lábios
.
suspendi a respiração
não era borboleta
era um beijo teu
afinal
.

domingo, maio 14, 2006

Sereia, que cantas?


linda fada do mar
surreal e humana sereia
que as ondas fazem sonhar
contigo deitada na areia
poemas de amor a cantar
ao som da tua harpa
iluminada pelo luar
escutando volta e meia
se o som que troa no ar
é grito lancinante
de navio a naufragar
ou insidiosa dor
de coração que chora
por não te poder amar

2006.05.14

quinta-feira, maio 11, 2006

meias vermelhas

















Num fim de tarde de Verão
tropecei numas meias vermelhas
que guardavam duas lindas pernas

Estavas deitada no areal
e essas meias vermelhas
de um vermelho vestal
eram como farol no escuro
indicando como porto seguro
o teu corpo tão alvo e puro

E tu olhaste para mim
olhando triste os meus olhos tristes
por não saberes o que sentir
por nada poderes sentir

Sabes...
o que dói não é a vida sem ti
é a vida depois de ti
porque o depois não tem fim.


(arte digital by O. Berandis)

uma gota


mais do que uma gota
tem a água na mão em concha
ou a que corre no rio
e a que o mar contém
toda ela
porém
é parcela ínfima
do sentimento
concentrado
numa lágrima
súbita
que vem

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Há tanta sensação que não conheço

Há tanta sensação que não conheço,
tanto vibrar de nervos que não sinto,
e contudo parece que as pressinto,
apesar de ver bem que as deesconheço.

A sensação que tem, à noite, o ar
quando o orvalho o toca, em beijos de água,
é porventura, irmã daquela mágoa
que sente, quando chora, o meu olhar?

Tem, porventura, alguma semelhança
a sensação dum cravo numa trança,
com a ância de quem morre afogado?

E fico-me a pensar que sentirá
uma vidraça quando o sol lhe dá,
e a rasga a mão de luz, de lado a lado...

João Lúcio
(retirado de Costa D'Oiro, Maio de 1936)

sexta-feira, janeiro 20, 2006

um poema...apenas

Ó CARA DE QUEIJO, DÁ CÁ UM BEIJO!


(gritou da varanda do 3º andar, para a rua, o homem que chamava a neta)


Ele
2006.01.20

quarta-feira, janeiro 04, 2006

ausência



a razão a travar-me
a angustia e as lágrimas
ou o mistério dentro de mim
a dor presente na memória
nas trevas, na noite
na ausência de ti
no teu silêncio
que não tem hora
para não estar
como o meu imenso pesar


terça-feira, dezembro 27, 2005

sentindo na tristeza

às vezes entristeço-me por um qualquer motivo
outras vezes sem motivo algum, apenas absorto
vindo de dentro de mim, porque sou ser vivo
ou pelos males deste mundo com defeito e torto

e vem a tristeza de uma palavra ou de um gesto
dos que têm um amor mas desconfiam continuamente
ou dos que têm um relógio e correm desalmadamente
quando há tanto que fazer e não se pára para ler, nem rir
nem ouvir música, nem brincar, nem mesmo para sentir

e assim, neste deserto de alma, um sentimento é bem-vindo
até um entusiasmo, uma melancolia ou uma paixão
qualquer sentimento, quer fique chorando ou rindo
qualquer coisa é boa, até uma simples e fugaz emoção

e assim ao sentir algo sinto uma alegria
e sentindo, sinto a vida nova e revitalizada
porque triste, triste mesmo, é não sentir nada.

Ele
2005-12-27

quinta-feira, dezembro 22, 2005

sonho nebuloso

Já somente me apareces
como um sonho nebuloso
em que fico absorto, e assim
irei navegando ansioso
pelos mares sem fim
sonhando atracar em teus braços
meu lindo anjo de cetim

Ele

2005-12-22

sexta-feira, dezembro 02, 2005

duas coisas (p/ Rivatti)

Duas coisas neste mundo
Eu gostava de possuir
O teu olhar doce e profundo
E o teu modo gentil de sorrir

Não dizes que gostas de mim
E se gostas, eu nunca senti
O teu gosto é outro, isso sim
Gostas é que eu goste de ti


Ele

2005.12.02

Fazer poemas

Fazer poemas não é partir, nem chegar
não é mais do que o olhar
nem é a estação nem é a viagem
a poesia, caro leitor, é apenas a paisagem.

Há na poesia uma tranquilizadora calma
que muito transforma em amor
quem sente, vê e fala com a alma
fala mais certo, vê mais longe, é superior.

Ele
2005.12.02

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Amiga (p/ Rivatti)

Amiga
eu queria escrever-te um poema longo, sem fim
mas para quê, sinceramente?!
se no fundo apenas quero dizer-te que gosto de ti,
assim, simplesmente.

às vezes tenho que pegar no livro
para ajustar uma palavra
pois nem tudo o que escrevo, sinto, ou vivo
pois nem tudo é de minha lavra

no dicionário procurei
palavra para rimar
quando AMIGA encontrei
o livro pude fechar.

Ele
2005-12-01

quarta-feira, novembro 30, 2005

de um sonho



Sonho
um sonho
vindo de longe
nem sei de onde
em asas de borboleta
que são olhos
teus
olhando os meus
e entrando
no meu coração

Sofro
mas não desperto
não acordo
imerso nesta fantasia
esqueço a amarga realidade
mas não evito a angústia
que me invade
e desgraçadamente
refém desta saudade
suspiro por ti
desesperadamente.

Sinto
a dor deste sentir
não correspondido
como te é votado
e assim desiludido
num coração magoado
sinto-me só e perdido
quando afinal
desejo apenas, amizade
.
Ele

domingo, novembro 20, 2005

A ostra


Da tua ostra
colho
teus gemidos
fluidos
e sementes
que trago
entre dentes

Na tua ostra
enterro
a ponta
do arpão
como ferro
que perfura
teu interior
e solta
o amor

Na tua ostra
encontro
a pérola
húmida
expectante
quentinha
que te faz
tremer
gemer
e ser
minha

Ele
2005-11-20